Temos visto nos últimos anos o crescimento de clínicas de “Saúde Sexual Masculina” que fazem grande alarde na mídia sobre a eficácia dos seus tratamentos.

Nesse período, venho tendo a oportunidade de atender pacientes que passaram por estes institutos. Em função disso, pude entender a dinâmica destas verdadeiras máquinas de produção em série de atender pacientes. Nestes centros, os pacientes  passam por uma sequência de entrevistas e exames padronizados. No final, independentemente de qual seja a razão do seu problema, todos terminam numa sala onde lhes é oferecido (a “preços módicos”) um kit para aplicação de injeções penianas. Esse kit é vendido como a única solução para o seu problema de disfunção erétil. 

Tenho vários pacientes que já passaram pela mesma situação, ainda que a causa dos seus problemas seja bem diversa. Observo jovens - cujo problema de disfunção erétil tem nítida influência emocional  - sendo orientados da mesma forma que pacientes de maior faixa etária com histórico de diabetes, arterioesclerose ou distúrbios de ejaculação precoce. Quase todos, invariavelmente, passam por um exame de circulação peniana. O resultado mostra que há uma “alteração”. O tratamento? O uso destas injeções por seis meses.

Segundo o relato dos meus pacientes, esses institutos lhes dizem que outras formas de tratamento não irão funcionar, principalmente o uso de comprimidos orais. Tal procedimento está na contramão do que que recomenda a Sociedade Brasileira de Urologia e o bom-senso da prática médica. Os comprimidos devem ser a primeira linha de tratamento para disfunção erétil, a não ser que exista alguma contraindicação.

Estranho também que institutos muito “bem montados” para resolver todos os problemas da sexualidade masculina não se encontrem preparados para tratamentos cirúrgicos, que muitas vezes são necessários, como o implante de próteses penianas ou cirúrgias para correção da Doença de Peyronie.  Tampouco tive notícia até hoje de que disponham de terapeutas que possam intervir nos casos em que a disfunção erétil têm um forte componente emocional. A parceria de um psicólogo pode ser de grande ajuda para a resolução desses problemas.

Os médicos que procuram tratar estes pacientes de uma maneira ética, técnica e discreta,  assistem a tudo isto com enorme pesar.

Muito tem se discutido ultimamente nos meios acadêmicos e na mídia sobre o valor do PSA e do toque retal na detecção precoce (“screening”) do câncer de próstata.

Como já foi dito em outro post, dois grandes estudos realizados nos Estados Unidos e na Europa chegaram a diferentes conclusões, principalmente no que tange à redução da mortalidade pela doença. Para os americanos, o fato de haver um maior número de diagnósticos não reduz a taxa de mortalidade. Por isso, concluíram que não valeria a pena os gastos com a detecção precoce. Os europeus têm posição oposta.

Há três tipos de câncer de próstata. Os de baixo risco, que raramente causam problemas ou a morte do paciente; os de risco intermediário, que provavelmente irão demandar  tratamento em algum momento de sua evolução; e os de alto risco. Este último tipo exige, sempre, tratamento mais agressivo.

Se o paciente é portador de um câncer na próstata de baixo risco, não há necessidade de medicá-lo com tratamentos que muitas vezes trazem transtornos à sua qualidade de vida. No outro extremo, quando temos um paciente portador de um carcinoma de alto risco, muitas vezes não conseguiremos evitar a sua morte mesmo utilizando os mais modernos e corretos tratamentos.

A meu ver, o debate não se encontra em fazer ou não o “screening” do cancer prostático. O que a ciência precisa conhecer melhor é qual tumor requer tratamento ou não. Por este motivo, o médico precisa ter uma boa experência ao lidar com esta doença. Só assim saberá o que tratar. O médico que tem esta bagagem terá segurança suficiente para tranquilizar seu paciente quando o tratamento for substituído por uma vigilância ativa. Assim, monitorando o paciente, o médico saberá o momento certo de iniciar o tratamento.

Na minha opinião, isso significa não menosprezar os exames preventivos. Mais do que nunca, devemos, sim, estar atentos aos tumores de alto risco, que normalmente afetam os homens mais jovens. Nestes casos, o melhor tratamento se inicia ao  saber da sua existência o mais cedo possível.  Felizmente, o êxito do tratamento precoce é muito maior graças à prática do “screening” com a realização do PSA e do toque retal de rotina.